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A Conquista do Monte Castelo – 67 anos depois


 Artigo enviado pelo Pesquisador Rigoberto Souza Júnior – Secretário da ANVFEB-PE.

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O Monte Castelo é até hoje, aclamado como o maior feito da Força Expedicionária Brasileira no Teatro de Operações da Itália. Acredito que isto se deve ao fato de ter havido quatro ataques, até a sua conquista definitiva.

            Esta elevação, a mais alta da crista dos Apeninos, já havia se tornado uma fortaleza inexpugnável, que causava arrepios em nossos combatentes e nas tropas aliadas, pois ingleses, sul-africanos, poloneses e americanos, já haviam tentado conquistá-lo sem êxito.

            Além dos soldados mortos em ação, houveram muitos problemas com o socorro dos feridos, ou mesmo com o recolhimento dos corpos, pois os alemães, uma tropa impiedosa, tinham por hábito ligar os cadáveres a armadilhas, como as temidas body-traps conectadas às plaquetas de identificação(dog-tag), ou então deixavam na mão do morto uma granada já sem o pino de segurança, que qualquer movimento que fosse feito, explodiam  causando mais danos aos nossos pracinhas.

            Gostaria de reproduzir alguns depoimentos de italianos, que viveram aqueles momentos de horror durante a 2ª guerra mundial:

            Giuseppe Cechelli – Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            “Lembro- me que nesta época havia falta de tudo, principalmente comida, e os brasileiros nos davam “scatole”(caixas de ração) que continham biscoitos, chocolate, carne enlatada, e às vezes minha mãe fazia polenta, que todos apreciavam muito, vivíamos como uma grande família. Também me recordo dos negros americanos da 92ª DI, que fugiram e vieram se esconder na parte de cima da minha casa, e posteriormente chegaram os americanos brancos para procurá-los, e ao interrogar o meu pai, ele não balbuciou nenhuma palavra, mas fez um gesto com a mão apontando para cima, indicando que os mesmos estavam no sótão.

            Com relação ao Monte Castelo, não posso me esquecer principalmente do ataque de 21 de Fevereiro de 1945, quando eu e minha família podíamos ver tudo de nossa casa, pois nunca a abandonamos, e era possível ver o fogo cerrado também sobre Rochindos, mas o que mais nos aterrorizava não era o fogo da artilharia, mas os tiros das metralhadoras, que partiam de todos os lados, enquanto nos abrigávamos em um abrigo no porão.”

            Francesco Arnoaldo Berti – Guanella Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            A Família Berti está ligada à história da cidade, pois além de ser proprietária de grande extensão de terras, mas porque a casa onde mora faz parte do antigo burgo que formou a cidade. Guanella é formada por um conjunto de casa no sopé do Monte Castelo.

            “ Em 1944 eu tinha 18 anos e faziz parte da Brigada Giustizia e Libertà, e os primeiros aliados que encontramos foram os americanos e cerca de 20 a 30 dias depois chegaram os brasileiros e ficaram onde hoje é o nosso jardim, pois o front estava praticamente parado, e onde hoje está o Monumento Liberazione, era a “terra de ninguém.

            Os brasileiros começaram avançar e não deram conta que o front estava parado, nós também não sabíamos, pois só depois soubemos que algumas divisões foram desviadas para atender ao desembarque na Normandia e aqui faltavam soldados. As primeiras tentativas para a tonmada de Monte Castelo foram feitas com muitas perdas da parte brasileira, nossos campos ficaram recobertos de cadáveres, pois foram ataques mal preparados, e somente em Fevereiro de 1945 o Monte Castelo foi tomado pelos brasileiros.

            A brigada partigiana tinha a função de administração da cidade, e aquele momento não era de combate, e me recordo que da casa Di Franchi se via o Monte castelo, e se dava para escutar um bombardeamento de grande intensidade sobre o morro, e aquilo era um crescente ensurdecedor. Não se tinha ideia de onde vinham os tiros, talvez de cinco canhões, fazendo um barulho enorme, e logo em seguida nuvens negras surgiam, este tomento durou cerca de três horas, até que enfim os brasileiros conquistaram o Monte Castelo.”

            Fabio Gualandi – Gaggio Montano – Bolonha – Itália

            “ Os americanos chegaram em Gaggio Montano no dia 13 de Outubro de 1944, uma sexta-feira, e na metade do mês seguinte chegaram os brasileiros, que procuravam um lugar para erguer seu acampamento, ocupando as casas maiores, e rapidamente faziam amizade com as senhoritas.

            Na cozinha do acampamento se fazia um pouco de tudo: mingau feito de leite em pó; churrasco feito de carne de boi ou porco; arroz com feijão preto, omelete feito com ovo em pó, mas o que eles mais apreciavam era um pão crocante, que era fabricado na Toscana, regado a muito café que era colocado em um recipiente grande. Os brasileiros levavam para a casa comida que alimentava uma centena de pessoas(uma companhia), os oficiais comiam numa mesa separada. Havia frutas, principalmente laranjas, e quando eles terminavam a população invadia o acampamento, e durante este tempo estes refugiados não passaram fome.

            Na época da guerra aqui era um pavor, vi mortos pelas estradas, os corpos ficavam ali até que viessem recolhê-los. A miséria era grande, a fome então… os brasileiros formavam um exército diferente, gostavam de estar em família, e chamavam as senhoras mais velhas de mamma”. Lembro-me das patrulhas à noite, e algumas eram divertidas, e alguns fumavam desavisadamente, acendiam fogueiras, e hoje penso como fomos nos expomos ao fogo inimigo.

            Pensei em seguir com os brasileiros, mas o meu pai não deixou, e nunca mais encontrei ninguém desta companhia. Temos um grande respeito e carinho pelos brasileiros, principalmente eu e minha família,  pelos dias difíceis que passamos na guerra e a maneira que não passamos fome com a ajuda humanitária deste Exército.”

            Este relato mostra que apesar das dificuldades enfrentadas por nossos Pracinhas, eles não perderam seus valores adquiridos em uma educação pautada no respeito ao próximo, característico do homem simples brasileiro.

Fontes: “E foi assim que a Cobra Fumou” – Elza Cansanção – 1987

            “ Nas trilhas da 2ª Guerra Mundial – Carmen Lúcia Rigoni – 2001

  1. Marco Aurélio Montano da silva
    04/04/2015 às 6:56 PM

    Fiquei muito emocionado em ler estes relatos, pois aconteceu nas terras de origem da minha familia(Gaggio Montano – Bolonha).É meu sonho um dia ir até lá.graccie.

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