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Osvaldo Aranha – O cara que decidiu

Osvaldo Aranha é uma prova cabal do pouco conhecimento que o nosso país tem com a sua história e que, infelizmente, diminui as nossas esperanças para com o futuro desse grandioso país.

Osvaldo Aranha foi uma das figuras mais importantes de seu tempo. Osvaldo é natural de Alegrete, Rio Grande do Sul, participou ativamente da vida política brasileira, sendo um dos principais articuladores da revolução de 1930, e da campanha da Aliança Liberal, para a deposição do Presidente Washington Luís. Em 1934 aceitou o cargo de embaixador do Brasil em Washington, onde sempre cultivou bastante amizade e consideração com os principais políticos daquele país, e que viria a ser fundamental durante a eclosão da Segunda Guerra.

Com a instituição do Estado Novo, em 1937, o Embaixador Osvaldo Aranha pede exoneração do cargo, por não concordar com os tramites políticos enveredados por Getúlio Vargas. Contudo, em março de 1938, depois de um longo conversa com o Presidente, aceita o cargo de Ministro das Relações Exteriores. Esse é o ponto mais importante para o país em relação a postura do Brasil frente a massificação das doutrinas pró-nações do Eixo, que alinhavam-se com a política do Estado Novo.

Com a eclosão da guerra, em setembro de 1939, o Brasil declara imediatamente sua posição frente ao conflito, alinhando-se com as determinações definidas no Encontro das Nações Americanas em outubro de 1939 na República do Panamá, onde os países dos continentes americanos determinaram uma zona de segurança de 300 milhas marítimas, devendo os países beligerantes respeitarem o Estado de Neutralidade dos países americanos. Muito embora a Argentina que votasse contra resolução, defendendo a não-beligerância dos países ao contrário na neutralidade, na prática isso faria com que os países das américas poderiam apoia e tomar partido no conflito sem se envolver belicamente. Osvaldo Aranha tem um papel de destaque nas conferências na busca pela unanimidade.

Entre os anos de 1939 e 1941 o Brasil flertou em vários momentos com as ditaduras do Eixo, e manteve relações comerciais ativas com a Alemanha até 1941. Vargas tinham como Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra e o General Góis Monteiro Chefe do Estado Maior do Exército, como seus principais conselheiros, todos declaradamente germanófilos, o que é compreensível devido as vitórias militares consecutivas que a Alemanha alcançara na primeira fase da guerra. O próprio Vargas exaltava a política nacionalista dos fascistas italianos. Em discurso proferido no Encouraçado São Paulo, Vargas exalta as políticas fascistas adotadas por Mussoline, que responde com uma carta direta ao Presidente felicitando-o pela declaração e fortalecendo os laços de amizade entre os dois países. Os norte-americanos não vêm com bons olhos a aproximação. Entre novamente em cena a figura do Ministro Aranha para dar explicações sobreas posição brasileiras.

Em 11 de outubro ocorre o primeiro incidente diplomático entre o Brasil e a Inglaterra, quando o navio Siqueira Campos é detido no estreito de Gibraltar pela Marinha de Guerra Inglesa com o pretexto de ter a bordo, não coberto por certificado de navegação, mercadorias de procedência alemã. Na verdade havia como carga do navio, armamentos alemães vendidos ao Brasil em contratos firmando antes da eclosão da guerra, portanto legais. Essa conduta dos ingleses enfurece o Governo Brasil, e os generais Dutra e Góis Monteiro exigem que o país corte as relações diplomáticas com o a Inglaterra. Nesse momento, o Ministro das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, intervém nas negociações, acionando os Estados Unidos para intermediar os entendimentos. O Siqueira Campos é liberado alguns dias depois. Esse foi o primeiro de outras apreensões realizadas pelos britânicos, sempre causando transtornos diplomáticos e precisando da intervenção direta de Osvaldo Aranha.

No final de 1941, logo depois dos ataques a Pearl Harbor, o Brasil convoca, junto com os Estados Unidos, o III Encontro de Chanceleres em janeiro de 1942, onde a maioria dos países optam por romper as relações diplomáticas com as nações do Eixo em solidariedade aos americanos. Mais uma vez, a Argentina vai de encontro a opinião dos demais países, agora acompanhado pelo Chile. No âmbito da política interna, Aranha tem sua própria guerra, o Ministro da Guerra e o Chefe do Estado Maior do Exército são contra o rompimento das relações, pois acreditam que o Brasil não teria condições de responder a possíveis retaliações das potencias do Eixo, alegando que o Ministro das Relações Exteriores não teve nenhuma consultoria dos militares para lhe fornecer as consequências de tais medidas para o país. Nesse período Getúlio escreve em seu diário: “O Osvaldo quer me convencer sobre o rompimento das relações diplomáticas…”. O que acontece de fato! O país comunica oficialmente a Alemanha, Itália e Japão, chamando de volta suas representações, sendo que a volta dos brasileiros nesses países ocorre sem qualquer incidente, exceto no Japão, onde os diplomatas e suas famílias têm problemas para deixar o país.

Desde o primeiro momento que o Osvaldo Aranha defendeu publicamente que o país deveria lutar lado a lado com os Aliados, várias correntes importantes e influentes da sociedade brasileira protestaram, inclusive havia campanhas idealizadas, pela chamada Quinta-Coluna, para conduzir o país a abraçar à causa alemã. Mas nada impediu esse bravo brasileiro a conduzir o país para o lado dos Aliados, mesmo que de forma política, dai então o interesse do governo para que os EUA fomentasse uma indústria de transformação no país em troca cessão de bases no nordeste.

Tudo ficou claro quando os alemães passaram a atingir navios mercantes na costa brasileira. Nesse momento o clamor vindo do povo, que assistia estarrecido o número de vítimas aumentarem assustadoramente mês a mês. Osvaldo também acredita que o Brasil deva declarar guerra a Alemanha, só que desta vez não encontra resistências por parte do Presidente ou de seus conselheiros.

Após a guerra Osvaldo Aranha se retira do governo, mas continua na vida diplomática, e em 1947, como chefe da Delegação Brasileira na recém criada Organização das Nações Unidas, na votação para o Plano da ONU para a Participação da Palestina que culminou com a criação do Estado de Israel, e onde o embaixador Aranha, teve uma participação de destaque. Sendo homenageado pelo Estado de Israel dado nomes a ruas em Tel Aviv e no Campus da Universidade Ben-Gurion do Negev em Bersebá.

Em 27 de janeiro de 1960, faleceu em decorrência de um ataque cardíaco o ilustre brasileiro que foi fundamental para o Brasil na primeira metade do século passado. Que sua memória e seus feitos possam ser exaltados por está e futuras gerações.

FEB – Os Detalhes Históricos – Introdução

Para entender os motivos que levaram a formação de uma Força Expedicionária Brasileira é necessário primeiramente compreender os desdobramentos políticos do Brasil na década de 30, sendo que à luz de uma análise desse período podemos ter uma visão geral dos acontecimentos que culminaram com a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Ainda no contexto político poderemos entender os motivos, até certo ponto contraditórios, de uma nação regida por uma política totalitária, como era a varguista, lutando lado a lado com potências democráticas.

O Brasil encerra a década de 20 com uma agitação política causada pelo rompimento da base da chamada política café-com-leite, onde o poder republicano, desde o início do século, pendia ou para São Paulo ou para Minas Gerais. Mas no processo de indicação visando as eleições presidenciais Júlio Prestes sai candidato por São Paulo, contrariando o presidente de Minas Gerais Antônio Carlos Ribeiro de Andrada que apoia o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas. Em 01 de março de 1930, acontece a eleição presidencial que aponta Júlio Prestes vencedor da disputa eleitoral, contudo este não toma posse, em virtude do Golpe de Estado, desencadeado em 03 de outubro. Getúlio Vargas é nomeado chefe do Governo Provisório em 03 de novembro do mesmo ano. Com isso chega ao fim o período da História do Brasil conhecida como República Velha.

Evidentemente não nos aprofundaremos nas circunstâncias que levaram Vargas ao poder, mesmo que esse fato tenha configurado todo o cenário brasileiro para as décadas seguintes, contudo cabe uma análise da posição do Exército Brasileiro no envolvimento com essas mudanças que floresciam no Brasil e no mundo.

Sublevações aconteciam a todo o momento no Brasil desde o início da década de 20, a exemplo a Revolta Tenentista, a Intentona Comunista de 35 que teve a participação de vários militares e iria ser o pretexto utilizado pelo próprio Vargas na instauração do Estado Novo, portanto as Forças Armadas estavam no centro das mudanças políticas e revoltosas que deixavam o país com uma instabilidade social, afetando diretamente a vida da sociedade. Em paralelo a esses movimentos revoltosos, o Exército estava sofrendo uma mudança radical em sua doutrina e estrutura, desde o final da Grande Guerra foi instaurada aqui em 1919 até 1940 a Missão Militar Francesa (MMF), e tinha como objetivo a modernização do Exército Brasileiro, bem como a adoção de uma nova doutrina militar de guerra, que naquele momento, era considerada a mais avançada do mundo.

No contexto territorial a rivalidade e as frequentes disputas que existiam entre a Argentina e Brasil pela hegemonia regional. Os argentinos exportavam matéria-prima em grande escala para a Alemanha durante a Grande Guerra, mas que a partir de 1924 a ideologia aos moldes fascistas, baseado no nacionalismo aflorou a disputa e, posteriormente, em 1930, sob o comando do General golpista José Felix Uriburu inspirou cuidados do Governo Provisório, chefiado por Getúlio Vargas, já que acreditava-se à época  que o  general argentino tinha aspirações territoriais no sul do Brasil, e partes das Forças Armadas brasileiras deslocaram efetivos para a tríplice fronteira.

A partir da instauração do Estado Novo em 1937, o Brasil passa a ter pretensões mais ousadas. Getúlio Vargas deixa claro sua política externa quando afirma que o Brasil iria buscar o seu lugar no contexto mundial, sendo um dos signatários nas Liga das Nações.

 Como era normal para o regime varguista, o Brasil estava mais ligado aos países ditatoriais, basta lembrar que houve um intenso e crescente comercio entre o Brasil e a Alemanha até 1935, quando esse último implementou leis protecionistas e diminuiu suas importações, mas o comercio nunca deixou de existir até 1939, quando as relações diplomáticas foram cortadas, Um outro exemplo foi a aproximação entre o Brasil e a Itália, cuja a ideologia fascista era até certo ponto exercida aqui no País. O nossos líderes à época expressaram em várias ocasiões sua admiração pelos resultados apresentados pelos Estados totalitários, portanto na concepção inicial, era de se imaginar que um conflito bélico o Brasil, no que concerne a seus líderes, se colocasse alinhado com os valores defendidos por essas nações.

 Esse era o cenário brasileiro nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, um país ávido por mudanças, mas com problemas sociais e políticos crônicos, mas sem uma identidade internacional, e com início do conflito cada vez mais pressionado para se posicionar.

Fontes:

http://tenentismonobrasil.wordpress.com/

http://blogdoconfrade.blogspot.com

Missão Militar Francesa de Instrução junto ao Exército Brasileiro – General Alfredo souto Malan – 1988

Soldados Brasileiros de Hitler

Hitler teve centenas de soldados brasileiros em suas tropas Professor da Universidade Federal do Paraná lança livro sobre os brasileiros com dupla cidadania que lutaram pela Alemanha na Segunda Guerra Marina Lemle

É bem possível que brasileiros tenham lutado contra brasileiros na Segunda Guerra. No recém-lançado livro “Os  soldados brasileiros de Hitler” (Editora Juruá), o historiador Dennison de Oliveira sugere, com base no número de repatriados da Alemanha para o Brasil entre 1946 e 1949, que algumas centenas de brasileiros lutaram sob a bandeira da Alemanha nazista. É provável, portanto, que alguns tenham enfrentado tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, embora não se conheçam registros oficiais.

 

Apesar do tabu acerca do tema, o professor da Universidade Federal do Paraná decidiu investigar a história desses indivíduos que prestaram serviço militar para o inimigo. A idéia surgiu a partir de um trabalho de Oliveira e seus alunos no Museu dos Expedicionários em Curitiba. Ao conhecerem a história de alemães que lutaram na guerra pela FEB, se questionaram se o contrário também teria ocorrido.

 

A resposta foi sim. Através do autor de um polêmico livro revisionista, Oliveira teve acesso a seis brasileiros que foram “soldados de Hitler”. Entrevistou quatro integrantes do exército alemão e dois membros da Juventude Hitlerista, incumbida do resgate de feridos, desabrigados e corpos durante a guerra.

“Por razões óbvias, a experiência de vida desses indivíduos, suas memórias e vivências, ficaram até recentemente silenciadas. O tabu contra os indivíduos que prestaram serviço militar sob a bandeira do inimigo, bem como a revelação, ao fim da guerra, do real significado do projeto nazista (genocídio, escravismo, racismo, totalitarismo etc), trabalharam para que a aparição desse tipo de relato permanecesse praticamente impossível”, explica o autor no início do livro.

 

Para atribuir à casa das centenas o número de soldados brasileiros que lutaram pela Alemanha, Oliveira baseou-se nos relatos do coronel do Exército Brasileiro Aurélio de Lyra Tavares, comandante do escritório da Missão Militar Brasileira aberto em Berlim em março de 1946.

De acordo com o coronel, antes mesmo de iniciados os trabalhos, a repartição já havia recebido um volume substancial de pedidos de brasileiros que pleiteavam repatriação para o Brasil. Quando o escritório abriu suas portas, havia filas permanentes em torno do prédio. Ao fim das atividades da Missão em dezembro de 1949, o coronel Tavares havia contabilizado o envio para o Brasil de 2.445 brasileiros e 2.752 estrangeiros, uma vez que o plano de repatriação incluía também os membros alemães das famílias.

Segundo o coronel Tavares, 83% dos pedidos referiam-se a brasileiros que haviam entrado na Alemanha entre 1938 e 1939 – período entre a anexação da Áustria e o início da guerra.

Oliveira explica que talvez jamais se saiba com exatidão quantos destes indivíduos eram do sexo masculino e se encontravam no grupo etário recrutável para o serviço militar pelo regime de Hitler. Mas, levando-se em conta que o ingresso na Juventude Hitlerista – organização que colaborava com o exército – era obrigatório a meninos e meninas a partir dos 14 anos, pode-se estimar em centenas o número de brasileiros que atuaram no regime nazista.

Para as crianças entre 10 e 14 anos, a filiação na organização JungVolk, controlada pelo regime, também era obrigatória.

Segundo Oliveira, os brasileiros recrutados eram em maioria filhos de famílias alemãs nascidos no Brasil, que retornaram à Alemanha para estudar ou trabalhar na década de 30, geralmente com suas famílias. Com a guerra, não puderam mais retornar ao Brasil e foram convocados pela sua também pátria.

De acordo com Oliveira, os brasileiros engajados pelas forças alemãs sempre agiram e lutaram como os outros alemães. O livro registra um caso único de um soldado que se recusou a lutar contra seus compatriotas brasileiros na Itália. O soldado apelidado pelos colegas de Der Amerikaner (o americano) tinha consciência de que podia se tornar responsável pela morte de antigos amigos recrutados pelo exército brasileiro e também sofrer represálias por ser um “traidor” do Brasil, caso fosse capturado.

Uma curiosidade é que a maior dificuldade dos combatentes ao voltar para o Brasil foi a falta do certificado de cumprimento das suas obrigações militares para com as Forças Armadas brasileiras, pré-requisito para o exercício da maior parte dos direitos civis. Segundo Oliveira, eles contornavam o problema cumprindo penalidades leves, como o pagamento de uma multa, ou recorrendo a soluções informais.

 

Com a publicação, que resultou de uma pesquisa sobre cidadania e nacionalidade entre teuto-brasileiros no período 1919-2004, o professor espera incrementar a historiografia da segunda guerra do ponto de vista de quem a perdeu, contribuindo para o conhecimento sobre diferentes dimensões sociais e humanas do conflito.

“A validade do exame e preservação desse tipo de memória sempre foi amplamente reconhecida: os testemunhos daqueles que viveram, trabalharam e – neste caso – lutaram pelo III Reich pode nos fornecer pistas importantes para o entendimento de uma série de eventos que tornaram o nazismo e a Segunda Guerra Mundial possibilidades históricas”, acrescenta.

Apesar de discordar da visão política dos entrevistados – a maioria é revisionista e até negacionista, isto é, nega que a Alemanha tenha começado a guerra e promovido o extermínio de milhões de pessoas em campos de concentração – Oliveira reconhece que desenvolveu uma relação de amizade com eles, tanto que dedicou-lhes o livro.

Questionado se seus entrevistados realmente acreditam no que dizem, Oliveira afirma que a negação dos fatos “é uma atitude política consciente”. “Eles têm um orgulho patriótico da Alemanha”, diz Oliveira, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.

Os entrevistados do livro insistem em apontar a responsabilidade da Grã-Bretanha pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, que, alegando defender a integridade das fronteiras polonesas, declarou guerra à Alemanha, mas não à URSS, que também havia invadido aquele país, como resultado do acordo Molotov-Ribentrop de agosto de 1939. “Fica evidente o esforço de se sublinhar o oportunismo britânico, ao mesmo tempo em que se invalidam as alegações de caráter ético ou de solidariedade que usualmente são associadas à atitude da Grã-Bretanha”, relata o pesquisador.

Os ex-combatentes também destacam os bombardeios aéreos de anglo-americanos contra as cidades alemãs, que teriam resultado na morte de pelo menos seiscentos mil alemães, além de feridos e mutilados. “Os alemães também sofreram com a guerra e é importante que se avance no conhecimento deste sofrimento – bem como o de todos os envolvidos”, explica Oliveira.

O próximo livro de Oliveira falará sobre os soldados alemães de Getúlio Vargas.

 

Fonte: Revista História Biblioteca Nacional