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Archive for 01/08/2013

Não Era Qualquer Navio, Era O BISMARCK!

  Não estamos falando de qualquer encouraçado da Segunda Guerra, estamos falando do Bismarck, o mais famoso dos navios de guerra. A História do Bismarck já é bem conhecida e já publicamos vários artigos aqui no BLOG sobre a caça que terminou com o afundamento do navio na sua primeira missão. Agora vamos apresentar o Bismarck de forma diferente, em toda a sua pompa, antes de se aventurar pelos mares contra os ingleses. Na segunda publicação vamos mostrar a “Caçada” ao navio de Hitler em Quadrinhos lançado logo depois dos ataques nos Estados Unidos. E por último uma análise da expedição que descobriu o navio com fotografias da situação dele hoje.

 

Detalhes da Guerra Na Normandia

 Artigo publicado por Ernie Pyle que acompanhou tropas no Dia D e nas operações posteriores. O relato foi um dos últimos do Ernie, pois um pouco mais de um ano depois ele seria morto em Okinawa por um atirador japonês. Vale a pena conferir o trabalho de um dos jornalistas que era considerado o melhor correspondente de guerra do mundo.

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Cabeça de praia da Normandia, 15 de junho de 1944 – O navio no qual eu rumo para a invasão do continente traz também alguns componentes da segunda leva de tropas de assalto. Chegamos nas águas congestionadas um pouco depois do escurecer do dia D mais um.

Abordo do navio, temíamos secretamente esta viagem, pois esperávamos ataques de U-boats, lanchas torpedeiras e ataques aéreos, contudo, nada aconteceu.

Ficamos no mar por muito mais tempo do que normalmente ficaríamos para fazer a jornada da Inglaterra para a França. O comboio no qual viajávamos era um dos vários que compunham o que é conhecido como “força”.

Enquanto descíamos, o Canal estava apinhado de forças rumando nos dois sentidos, e, enquanto escrevo, elas ainda rumam para norte e sul. Caça-minas alargaram as passagens para nosso comboio durante todo o percurso da Inglaterra para a França. Estas passagens eram marcadas com bóias. Cada caminho tinha milhas de largura.

Lá nós víramos, diante de nossos olhos, mais navios do que qualquer humano jamais vira em um só relance. Rumando para o norte, navegavam outros gigantescos comboios, alguns compostos de destróieres e outros navios velozes, que rumavam para a Inglaterra a fim de trazer novas cargas de tropas e equipamentos.

Tão longe quanto sua vista pudesse enxergar em qualquer direção, o oceano estava infestado de navios. Devia existir todo o tipo de embarcação oceânica do mundo ali. Eu até mesmo creio ter visto um vapor de roda de pá à distância, mas acho que era provavelmente uma ilusão.

Havia encouraçados e todos os tipos de vasos de guerra em escolta e patrulha. Havia grandes frotas de “Liberty Ships” Havia frotas de luxuosos transatlânticos transformados em transportes de tropas e frotas de grandes cargueiros e petroleiros. E, de quando em vez, em meio a essa barafunda, avistávamos navios que não conseguíamos descrever: iates convertidos, barcas, rebocadores, chatas. A melhor maneira que encontro para descrever esta vasta armada e a urgência frenética do tráfego é pedir que o leitor visualize o porto de Nova York, no dia mais ocupado do ano e multiplique a cena até que ela tome todo o espectro de visão que o olho humano pode atingir, até a linha do horizonte. E, além do horizonte, ainda haveria dúzias de vezes este número.

Não pudemos desembarcar assim que chegamos à costa de invasão em meio ao grande volume de navios, naquilo que é conhecido como “área de transporte”.

Tudo é altamente organizado em uma invasão, e, cada navio, até mesmo o menor deles, está sempre sob as ordens exatas, mensuradas por minutos. Mas, como nosso comboio foi tão castigado pelos ventos e pelas correntes, acabamos nos adiantando cinco horas no cronograma, apesar do fato de nossas máquinas terem permanecido paradas durante metade do tempo. Gastamos esse tempo circulando.

Embora tenhamos chegado a tempo, eles não estavam prontos para nos receber nas praias e passamos ainda várias horas navegando para lá e para cá entre a multidão de navios próximos à cabeça de praia. Finalmente, depois de muito tempo, recebemos ordens de entrar em fila e aguardar nossa vez.

Nesse momento deu-se a parte mais incongruente da invasão para nós. Aqui estávamos, na primeira fileira de um grande épico militar. Granadas dos encouraçados zuniam sobre nossas cabeças e, ocasionalmente, um cadáver passava pelo nosso navio boiando. Centenas e centenas de navios carregados moviam-se confusamente em torno de nós. Podíamos nos sentar na amurada e ver tanto as nossas granadas, quanto as alemãs, explodindo na praia, onde homens esforçados saltavam para a costa, vadeando desesperadamente e largando armas e equipamentos pelo caminho.

Estávamos no próprio vórtex da guerra e ainda assim, sentávamos lá para esperar. O Tenente Chuck Conick e eu jogávamos buraco nos beliches, enquanto Bing Crosby cantava “Sweet Leilani” pelo sistema de som do navio.

Projéteis acertavam as águas próximas a nós e levantavam colunas de água, que se chocavam contra o casco de nosso navio. Mas em nosso alojamento, homens com máscara contra gases e vestindo salva-vidas sentavam-se, lendo a “Life” e ouvindo a BBC, que nos transmitia notícias de como a guerra, que estava bem debaixo de nossos narizes, progredia.

Mas não era exatamente assim que acontecia em terra. Não, realmente não era nada parecido com um boletim da BBC.

Algum lugar da França, 26 de junho de 1944 – O atirador de escol – até onde eu saiba – é reconhecido como um meio legítimo de se fazer guerra; ainda assim, há algo de furtivo nele que implica com o senso americano de justiça. Eu nunca sentira isso antes de chegar à França e começar a acompanhar nossos soldados. Já tivéramos contato com franco-atiradores antes – em Bizerta, Cassino e vários outros lugares, mas sempre em pequena escala.

Aqui, na Normandia, os alemães se dedicaram de maneira total ao tiro de precisão. Há atiradores de escol em toda a parte. Há atiradores em árvores, em prédios, em pilhas de destroços, no mato, mas eles se localizam, principalmente, nas altas e cerradas cercas vivas que cobrem todos os campos normandos e costeiam cada estrada ou trilha.

Este é um país perfeito para o atirador de escol. Um homem pode se esconder nas boscosas sebes com vários dias de ração e encontrá-los é como procurar agulha em um palheiro. Para cada milha que avançamos, dúzias de franco-atiradores ficam para trás. Eles acertam nossos soldados um por um enquanto se deslocam pelas estradas ou campos.

Não é seguro se mover em uma área de bivaque até que os franco-atiradores tenham sido encontrados. No primeiro acampamento que cheguei, ouvi tiros zunindo por um dia inteiro antes que todos os atiradores escondidos fossem eliminados. Isso lhe dá a mesma sensação assustadora de andar em meio a um lugar que você acredite estar minado.

Nas campanhas anteriores, nossos soldados falariam sobre atiradores esporádicos com desprezo e nojo, mas aqui, a atividade se tornou mais importante e tomar precauções contra ela é algo que temos que aprender bem rápido.

Um amigo oficial disse: “Cada soldado aprendera a se prevenir contra franco-atiradores individualmente, agora temos que nos conscientizar deles como unidade”.

Os franco-atiradores matam tantos americanos quanto podem e então, quando sua comida ou munição terminam, se rendem. Para um americano, isso não é considerado muito ético. O soldado americano médio não tem grande ódio do soldado alemão comum, que luta em terreno aberto, mas seu sentimento contra os sorrateiros atiradores de escol são tão cáusticos que não podem ser publicados. Eles estão aprendendo como matar os atiradores antes que chegue o momento de se renderem.

De modo geral, esta parte da França é muito complicada para qualquer coisa a não ser o combate em pequenas unidades. Essa é uma região de pequenos terrenos, cada qual cercado por uma grossa sebe ou cercas altas de árvores. Dificilmente há um lugar onde você possa enxergar o campo além daquele onde você se desloca. Na maioria do tempo, o soldado não vê mais do que algumas dezenas de metros em qualquer direção.

Em outros lugares, o solo é inundado e pantanoso, com mato muito crescido e denso. Neste tipo de situação a guerra se torna quase homem a homem. Um oficial que servira muito tempo no Pacífico disse que este tipo de luta é a coisa mais próxima de Guadalcanal que ele já tinha presenciado.

Na frente oeste, 11 de agosto de 1944 – Eu sei que todos nós, correspondentes, tentamos por várias vezes descrever para vocês como é esta esquisita luta em cercas vivas no nordeste da França, apesar disso eu insistirei no assunto mais uma vez, pois estamos aqui por dois meses e alguns de nós sentem que este tempo foi suficiente para quebrar o exército alemão no oeste.

Este tipo de luta é realizado sempre em pequenos grupos, vamos tomar então, como exemplo, uma companhia. Digamos que eles avançam por uma viela entre dois campos e que esta companhia é responsável pela limpeza destas duas áreas em cada lado da estrada enquanto avança. Isso significa que você tem aproximadamente um pelotão por campo e, como normalmente as companhias ficam desfalcadas por baixas, você deve ter não mais do que 25 ou 30 homens em cada campo.

Por aqui os campos normalmente não são maiores do que 45 metros de largura por algumas centenas de metros de comprimento. Eles podem ter plantações de cereais, ou pomares, mas normalmente são somente pastos de grama bem verde, cheios de belíssimas vacas.

Os campos são cercados por todos os lados por gigantescas cercas vivas que consistem de bancos de terra antiqüíssimos, cobertos de raízes, sob as quais crescem ervas daninhas, arbustos e árvores de até seis metros de altura. Os alemães usam estas barreiras muito bem. Eles colocam franco-atiradores nas árvores, cavam trincheiras profundas atrás das sebes e as cobrem com vigas e troncos, tornando-as quase à prova de nossa artilharia.

Algumas vezes eles armam metralhadoras com cordões presos, podendo atirar pela sebe sem sair de seus buracos. Eles até mesmo seccionam parte da sebe e escondem ali um canhão ou um tanque, cobrindo-os com vegetação. Eles também cavam túneis sob as cercas vivas, abrindo no lado oposto um buraco suficientemente grande para posicionar uma metralhadora; mas, normalmente, o padrão neste terreno é: uma metralhadora pesada escondida em cada ângulo do campo e soldados ocultos ao longo de toda a sebe, com fuzis e submetralhadoras.

Nossa tarefa agora é arrancá-los de lá. Esse é um negócio lento e cauteloso, e não há nada muito fascinante a respeito. Nossos homens não avançam pelo campo em dramáticas cargas como aquelas que você vê no cinema. Inicialmente eles procediam assim, mas as baixas lhes ensinaram que esta não era a melhor maneira.

Eles avançam em pequenos grupos, um esquadrão ou menos, separados por alguns metros e colados às sebes de cada lado do campo. Eles rastejam por alguns metros, param, perscrutam, esperam e então rastejam novamente. Se você pudesse estar exatamente entre os alemães e os americanos você não conseguiria enxergar muitos homens de cada vez – só uns poucos ali e aqui, sempre tentando manter-se escondidos, mas certamente você ouviria um grande número de barulhos horríveis.

Nossos homens aprenderam, no treinamento, a não atirar até que vissem alguma coisa em que disparar. Mas essa doutrina não funcionou neste país, pois você “vê” muito pouco, portanto a alternativa é continuar atirando constantemente contra as cercas vivas. Isso mantém os alemães nos seus buracos enquanto nossos soldados rastejam em direção a eles.

Os esquadrões de ataque esgueiram-se ao lado das sebes enquanto o resto do pelotão permanece nas suas próprias cercas e mantém a cerca adiante saturada de fogo. Eles também usam lançadores de granadas, e um esquadrão de morteiro um pouco mais atrás, disparando cargas sobre as sebes alemãs.

Os pequenos grupos de vanguarda chegam às sebes inimigas pelos ângulos do campo, tentando, primeiramente, eliminar as metralhadoras ali posicionadas com granadas de mão, lançadores de granadas e submetralhadoras.

Geralmente, quando a pressão aumenta muito, os defensores alemães da sebe começam a recuar. Eles levam suas armas mais pesadas e a maioria dos homens por alguns campos e começam a cavar uma nova linha de defesa. Eles deixam uma ou duas metralhadoras, e uns poucos fuzileiros espalhados pela linha antiga; estes homens tentam manter um volume de fogo a fim de atrasar os americanos o máximo possível.

Nossos homens agora se esgueiram para o meio da sebe, atirando granadas para o outro lado e disparando contra a vegetação. A luta é realizada de muito perto, somente uns poucos metros de distância, mas raramente desenvolve para combate homem a homem.

Algumas vezes os defensores alemães se levantam de suas trincheiras com as mãos para cima, noutras eles fogem e são atingidos, em outras ainda, eles simplesmente não saem de seus abrigos de forma alguma e uma granada de mão, jogada nas suas trincheiras, os elimina. Desta forma, finalmente, conquistamos outra sebe e estamos prontos para avançar à próxima.

Esta batalha nas cercas vivas configura-se por uma série de pequenas escaramuças como as descritas acima, milhares de pequenas escaramuças, sendo que nenhuma delas envolve mais do que poucas dezenas de homens, mas, somando-as todas, por dias, semanas e meses, nós temos uma guerra gigantesca, com milhares de homens sendo mortos de cada lado.

Ernie Pyle logo depois de ter sido atingido.

Ernie Pyle logo depois de ter sido atingido.